sexta-feira, 11 de abril de 2014

Para além das fronteiras do óbvio

Tenho assistido com preocupação à campanha que tem vindo a ser montada em Portugal em torno da natalidade, a qual visa incentivá-la e, consequentemente, combater o envelhecimento do país. Ponto prévio: não se contesta que o país esteja a ficar envelhecido e que, resultado disso, sejam necessárias medidas de revitalização do mesmo. Contesta-se, sim, que a medida escolhida para combater o problema seja através do aumento da natalidade.
Para se perceber o que aqui escrevo é necessário derrubar fronteiras e encarar o problema de um ponto de vista global, isto é, olhando para o planeta como um todo, vendo-o como a nossa única casa. Se o fizermos, chegaremos facilmente à conclusão que o nosso planeta não tem falta de pessoas. Bem pelo contrário. Para que o leitor tenha uma ideia, em 1987 éramos cerca de cinco mil milhões de pessoas, tendo passado em 2011 para sete mil milhões e, tanto quanto é possível prever, em 2050 seremos nove mil milhões, isto tendo por base o último relatório da UNEP (United Nations Environment Programme).
Manifestamente, o nosso planeta começa a não ter capacidade para alojar tanta gente, sendo já vários os sinais que apontam nesse sentido, como sejam zonas do globo com escassez de alimento, as quais são potenciadoras de fome e casos de má nutrição ou, numa outra perspectiva, fenómenos naturais cada vez mais frequentes e severos, e fenómenos sociais cada vez mais graves.
A preferência por políticas de natalidade regionais, ou, se preferirmos, nacionais, em detrimento de uma política global de natalidade, faz com que tenhamos uma visão redutora do problema e não sejamos capazes de estabelecer uma relação directa entre o aumento populacional e a deterioração do planeta e dos seus recursos.
No caso português é manifesto que essa ausência de relação é fortemente condicionada por motivações económicas, designadamente as que resultam da anunciada ruptura da segurança social a médio prazo, e demográficas, com especial destaque para o interior do país – cada vez mais desertificado.
Ora, com as eleições europeias à porta seria desejável que a classe política europeia contribuísse para a promoção de uma política de natalidade global, assente no bem-estar comum e, também assim, mostrasse abertura para receber pessoas de outras partes do globo (quiçá, encontrando uma solução para a imigração ilegal verificada no sul da Europa), dando oportunidades a quem não as tem e claro, desde que observadas certas regras, nomeadamente no respeitante às políticas de emprego.


André Nunes, Vice-presidente do Conselho Local de Almada do PAN in Cidade Informação Regional, Almada, Opinião, 8 abril de 2014

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