segunda-feira, 15 de março de 2010

Uma tourada nunca pode ser "a favor" dos animais


Apesar de a presidente da Associação dos Amigos dos Animais de Vila Franca de Xira, Telma Ferreira, já ter declarado que faz questão de recusar quaisquer verbas provenientes de eventos tauromáquicos, já que tal atitude seria "contrária aos princípios das associações de apoio aos animais" (leia a notícia n'O Mirante), continua a ser anunciado em Vila Franca de Xira um festival taurino "a favor do canil/gatil dos amigos dos animais". O evento estava marcado para o passado dia 28 de Fevereiro, tendo sido cancelado devido à chuva e adiado para 20 de Março.

O Partido Pelos Animais sublinha, uma vez mais, a sua veemente oposição a que uma associação dita de defesa dos animais beneficie do sofrimento destes, apenas por serem de espécies diferentes daqueles a que habitualmente se dedica.

Solicitamos aos promotores da tourada o bom senso e a honestidade de respeitar a posição da presidente da associação e de se abster de anunciar nos seus cartazes um apoio pecuniário insensato e indesejado a uma entidade cujos princípios colidem frontalmente com a actividade por si promovida.

domingo, 7 de março de 2010

Meat the Truth - Uma Verdade Mais Que Inconveniente em Almada


Meat the Truth - Uma Verdade Mais Que Inconveniente é um documentário apresentado por Marianne Thieme, líder do Partido Pelos Animais holandês, que se assume como uma adenda aos vários filmes existentes sobre o aquecimento global. Tais filmes, apesar de bem-sucedidos no propósito de atrair a atenção do mundo para o fenómeno do aquecimento global, ignoram ostensivamente uma das principais causas desse mesmo fenómeno: a pecuária intensiva. O documentário chama a atenção para essa realidade, demonstrando através de dados científicos que a pecuária é responsável por uma quantidade mais significativa de gases causadores de efeito estufa do que todos os carros, camiões, comboios, navios e aviões do mundo.

No próximo dia 13 de Março pelas 16 horas este documentário vai ser exibido em Almada. Após a exibição seguir-se-á um pequeno espaço onde podem ser colocadas questões e dúvidas.

Local: Campo de São Paulo , n.º 6, 2.º - 2800-642 Almada (em frente ao Seminário de Almada)

Localização (Google Maps)

Comunicado - PPA Almada

O Núkleo de Almada do Partido Pelos Animais (PPA) saúda todos os bombeiros envolvidos no resgate de animais nas cheias que atingiram Vila Nova da Rainha.

Apesar de não se tratar de uma situação de catástrofe e de este fenómeno hídrico ser anualmente recorrente, incompreensivelmente algumas pessoas manifestam desprezo pela vida dos animais de quem seria suposto cuidarem.

O Núkleo de Almada do PPA saúda por isso a atitude altruísta dos bombeiros envolvidos nas acções de assistência, ao dedicarem a devida atenção a estas criaturas que, além de entregues à sua sorte, são deixadas presas e retidas em locais e em situações que geralmente agravam o seu risco de morte.

Bom trabalho.

Rui Vieira Nery opõe-se à criação de uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura

O musicólogo Rui Vieira Nery, membro do recém-criado Conselho Nacional de Cultura, assumiu a sua oposição à criação de uma secção de tauromaquia no mesmo, tendo afirmado a sua intenção de abordar o tema já na primeira reunião desse órgão. Leia as suas palavras:

"Fiquei em estado de choque com a leitura do Despacho Regulamentar, que me parece um retrocesso escandaloso nas políticas públicas sobre a Tauromaquia, e não deixarei de tomar posição a este respeito, designadamente na primeira reunião do Conselho Nacional de Cultura, que terá lugar na próxima semana." - Rui Vieira Nery

Relembramos todos aqueles que ainda não assinaram que continua online a petição pela reversão dessa decisão absurda. Quanto mais signatários, mais veemente o nosso NÃO a esta secção e à tauromaquia em geral. Assinem e divulguem, cada vez mais! Obrigado.

"Gabriela Bandarilha e Canela" - Bruno Nogueira na TSF sobre a criação da secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura

Pode ser ouvido aqui: http://tsf.sapo.pt/Programas/programa.aspx?content_id=904110&audio_id=1508750

"Morrer como um touro" - Paulo Varela Gomes

O Ministério da Cultura resolveu criar uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura a pretexto de que lidar touros seria uma tradição cultural portuguesa a preservar. Mas a tradição é mais antiga, do tempo em que humanos e animais lutavam na arena para excitar os nervos da multidão com o sangue e a morte anunciada. A piedade, que é um valor mais antigo do que Cristo, veio, na sua interpretação cristã, salvar disto os humanos. Esqueceu-se, porém, dos animais.

Há um momento nas touradas em que o touro, muito ferido já pelas bandarilhas, o sangue a escorrer, cansado pelos cavalos e as capas, titubeia e parece ir desistir. Afasta-se para as tábuas. Cheira o céu. Vêm os homens e incitam-no. A multidão agita-se e delira com o sangue. O touro sabe que vai morrer. Só os imbecis podem pensar que os animais não sabem. Os empregados dos matadouros, profissionais da sensibilidade embaciada, conhecem o momento em que os animais “cheiram” a morte iminente. Por desespero, coragem ou raiva (não é o mesmo?), o touro arremete pela última vez. Em Espanha morre. Aqui, neste país de maricas, é levado lá para fora para, como é que se diz? ah sim: ser abatido. A multidão retira-se humanamente, portuguesmente, de barriga cheia de cultura portuguesa, na tradição milenar à qual nenhuma piedade chegou.

Os toureiros têm pose que se fartam (e com a qual fartam toda a gente). Pose de hombre, pose de macho. Mas os riscos que de facto correm são infinitamente menores que a sorte que inevitavelmente espera os touros, que o sofrimento e a desorientação que infligem aos touros para o seu próprio prazer e o da multidão. Dá vontade de dizer que quem se porta assim, quem mostra orgulho de se portar assim, tem entre as pernas, e não apenas literalmente, órgãos bem mais pequenos que aqueles que os touros exibem. Os toureiros são corajosos mas entram na arena sabendo que haverá sempre quem os safe, senão à primeira colhida, então à segunda. Às vezes aleijam-se a sério e às vezes morrem, o que talvez prove que os deuses da Antiguidade são justos, vingativos e amigos de todos os animais por igual. Os touros, esses, não têm ninguém que os vá safar em situação de risco, estão absolutamente sós perante a morte. Querem os toureiros ser hombres até ao fim? Experimentem ser tão homens como eram os homens e os animais na Antiguidade: se ficarem no chão, fiquem no chão. Morram na arena. É cultura. A senhora ministra da Cultura certamente compensará tão antigo costume.

Também era da tradição, em Portugal por exemplo, executar em público os condenados, bater nas mulheres, escravizar pessoas. Foi assim durante milénios. Ninguém via mal nenhum nisso a não ser, confusamente, com dúvidas, as próprias vítimas. Até que a piedade, na sua interpretação moderna e laica, acabou com tão veneráveis tradições.

Que será preciso para acabar com a tradição da tourada? Que sobressalto do coração será necessário para despertar em nós a piedade pelos animais?

Paulo Varela Gomes, “Cartas do Interior”, Público, 27 de Fevereiro de 2010