terça-feira, 25 de março de 2014

Criar parques de recreio públicos para cães

De acordo com a paleoantropóloga Pat Shipman, da Penn State University, existe a teoria de que os cães, gatos e outros animais domésticos tiveram um papel importante na evolução dos seres humanos. O hábito de acolher e conviver com animais estimulou o desenvolvimento de algumas habilidades humanas, tais como a linguagem, a criação de ferramentas e o convívio são em comunidade.
Focando-nos agora mais nos cães, estes são quem tem uma vida mais participativa no quotidiano da população nas mais variadíssimas formas, porque, para além da coabitação comum, requerem cuidados mais específicos e abrangentes que envolvem directamente a participação dos seus responsáveis repercutindo-se de forma transversal na vida dos outros. Com esta implicação tão directa na vida da nossa sociedade, é perceptível que os órgãos autárquicos não estão ainda preparados para a inclusão de canídeos nos espaços sociais do Município e, consequentemente, na vida dos cidadãos, pois não existem condições para essa harmonização conjunta – o que à partida pode parecer paradoxal.

Tal solução está longe de obter o sucesso esperado, pois estas restrições não revertem o problema da saúde pública relacionada com os dejectos de canídeos nem impedem que a qualquer momento nos cruzemos com um cão eufórico. Na verdade, o sistema actual até acaba por incentivar as pessoas a abandonarem os seus cães, aumentando a quantidade de animais que circulam na via pública sem qualquer controlo, o que se reflecte no aumento dos tão indesejados dejectos – pois estes não sabem ler placas nem sinaléticas.Em Almada, existem espaços com elevada envolvente natural, relativamente planeados e preparados para o convívio familiar e social, mas que se encontram totalmente condicionados à presença de animais, apenas por razões de salubridade, os quais apenas podem circular nas vias pedonais específicas e sempre com trela, sendo “forçados” a fazer destas vias os seus sanitários. Neste concelho não existem espaços higiénico-sanitários para cães mas insiste-se no controlo e fiscalização da presença de canídeos nesses locais mediante a aplicação de coimas.
Encontra-se em fase de construção um projecto que terá ligação directa entre o Pragal (Quinta dos Castros) e o Parque da Paz, e deste projecto faz parte a criação de mais um lago para patos. Todavia, e mais uma vez, não está contemplada a criação de um espaço para a livre circulação de cães, nem para os tão necessários sanitários caninos. Estes espaços podem produzir um impacto significativo na qualidade de vida da população local – animais e pessoas – que pode ir desde as relações promovidas pelo convívio entre os tutores e os animais – incluindo pessoas com problemas sociais – aos animais – por potenciar a prevenção de patologias destes – até mesmo às relações entre vizinhos – através da redução do ruído causado pelos animais contidos em apartamentos que são sujeitos a elevados níveis de stress e de ansiedade.
Neste quadro, é imperativo que se proceda à gestão dos espaços verdes existentes com a implementação urgente de parques de recreio públicos para cães e que nos novos projectos esteja sempre contemplada a implementação destes espaços. À semelhança do que existe na maioria dos países europeus, a implementação de espaços de recreio e sanitários públicos para cães, que por sua inerência contribuirão para a promoção de uma sociedade em harmonia, não apenas beneficiará como também valorizará o próprio município, tornando-o como um modelo de boas práticas nesta matéria, diferenciando-o de tantos outros e mantendo-o na vanguarda das necessidades da sua população. O desenvolvimento e a adequação aos mais elevados índices de modernização também passam por aqui e Almada não pode perder o comboio europeu.

Por Célia Feijão, Presidente do Conselho Local de Almada do PAN, in Cidade Informação Regional, Almada, Opinião, 25 mar. 2014 



Sem comentários:

Enviar um comentário