sexta-feira, 19 de setembro de 2014

PAN: o regresso ao futuro

Aquando da criação do PAN os objectivos foram bem definidos: (i) a abolição do especismo, integrando-se o Ser Humano (e a promoção do seu bem-estar) na categoria de Animal, juntamente com os animais propriamente ditos; (ii) a necessidade de proteger verdadeiramente a natureza – uma vez que o único suposto partido que se diz em favor do Ambiente não é mais do que um núncio do Partido Comunista criado no calor dos movimentos ecologistas da década de 1970 e como forma de conquistar eleitorado a partidos de direita. Importante era negar o humanismo personalista e reconhecer que os animais sencientes, tal como os Humanos, não podem ser um meio para atingir mas constituem, também eles, um fim. No entanto, nunca a protecção do bem-estar económico e social do Homem seria negligenciada. Tudo é compatível.
O PAN foi oficializado como partido político pelo Tribunal Constitucional a 13 de Janeiro de 2011. Havia muito por fazer nas áreas a que o PAN se propôs e muitos de nós investimos tudo de nós para que o partido conseguisse projectar-se e prosseguir competentemente os seus fins. No entanto, aquele que começou por ser um partido independente sem ideologia política ou religiosa, passou a evidenciar a inclinação de alguns dirigentes para fazerem do partido um instrumento com fins proselitistas e de engrandecimento pessoal.
A esta situação juntou-se também o deslumbramento com os resultados do primeiro acto eleitoral em que o PAN participou: as legislativas de 2011, com 57.849 votos! Um excelente resultado para um partido que se estreou em eleições semanas depois de ter sido criado. O problema é que este deslumbramento teve mais consequências negativas do que positivas. A primeira delas foi que o PAN atraiu todo o tipo de pessoas, incluindo tanto pessoas com bom fundo, como renegados de outros partidos – que, por razões que se desconhecem, associaram o PAN à esquerda – mas cuja experiência nesses partidos os fez conquistar o seu espaço e, simultaneamente, promoverem as suas convicções (mesmo que à margem dos fins do PAN) e assumirem paulatinamente o controlo do partido.
A segunda consequência foi fazer com que alguns dirigentes dos órgãos nacionais acreditassem que tinham sido eles os responsáveis pelo sucesso do PAN e que só eles conduziriam o partido à glória. Sucede que esta ilusão cegou algumas pessoas de tal maneira que os fins do PAN passaram a ser um meio para atingir um fim pessoal: o acesso a cargos importantes em órgãos de soberania. A sede de poder, sempre condenada pelo PAN, passou a ser a bandeira que afastou essas mesmas pessoas do que realmente interessava: a causa animal e a defesa da natureza. Tudo isto responde ao porquê de, em 3 anos e meio de existência, o melhor que o PAN nacional fez foi criar e promover um abaixo-assinado anti-touradas e seguir sempre na sombra de outras associações, de longe muito mais interventivas, entre as quais a ANIMAL. Isto é muito pouco com tanto que há por fazer.
Os resultados alcançados nas últimas eleições europeias não foram melhores que os de 2011, mas o método de Hondt reforçou a possibilidade de o PAN eleger, pelo menos, 1 deputado à Assembleia da República já em 2015 – e um círculo eleitoral nacional permitiria eleger mais do que 1 deputado. Tudo isto atraiu o interesse de mais entidades, sobretudo partidos políticos, que vêem no PAN uma forma de seguirem à boleia para lugares elegíveis no Parlamento. A causa em favor dos animais e da natureza serve apenas como bandeira que dissimula o que realmente interessa para algumas pessoas: o acesso ao poder.
Neste quadro, a recente queda da Direcção Nacional não surgiu por acaso. Estes 3 anos e meio têm de ser encarados como dores de crescimento. Que sirvam de lição aos que (con)fundem instituições com pessoas e deixam as causas para segundo plano.
É neste contexto que surge a minha disponibilidade para liderar o PAN – decisão que é apoiada por um número significativo de militantes e simpatizantes: queremos que o PAN regresse às origens, meramente focado nos fins a que sempre se propôs, olhando para o futuro. O que proponho é devolver o PAN à sua causa e aproveitar o seu crescimento para ser, finalmente, útil e eficiente. E é exactamente por isso e por recusar o poder e o engrandecimento de pessoas em detrimento das causas que, caso venha a assumir a presidência do partido, anuncio a minha indisponibilidade para encabeçar qualquer lista do Partido à Assembleia da República por acreditar que o futuro Presidente deve concentrar-se exclusivamente no Partido e permitir que lugares elegíveis sejam desempenhados por pessoas igualmente capazes que também honrem a causa sem deixarem o partido para segundo plano, uma vez que tem de ser mais um meio em favor da causa sempre a tempo inteiro.
O PAN, quer garanta ou não mandatos na Assembleia da República, tem de manter a sua actividade e apresentar propostas que actualizem e desenvolvam o ordenamento jurídico e, mais importante ainda, que sensibilize as pessoas para o mundo que as rodeia, fomentando um estilo de vida saudável, exercendo também um papel importante junto da população (de crianças a idosos), e promovam um crescimento económico sustentável melhorando as condições de vida sem afectar o bem-estar animal, nem explorar abusivamente os recursos da natureza. Queremos estender a Portugal o que tem sido feito, por exemplo, em Almada e também no distrito de Setúbal, e ir muito mais além!
O PAN tem gente para regressar ao futuro. O PAN tem gente capaz e inovadora. O PAN tem gente para quem o poder só pode ter um fim: o de permitir fazer mais e melhor pelos animais e pela natureza. Junte-se a nós!

 Por Célia Feijão, Presidente do Conselho Local de Almada do PAN, in Cidade Informação Regional, Almada, Opinião, 19 set. 2014 

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